Thursday, May 22, 2008

Um dia como os outros dias



Acordo de manha mais cedo do que dantes, parece que as três horas foram suficientes.
Os primeiros raios de sol que trespassam a persiana reflectindo-se na parede branca não me fizeram acordar foi outra coisa. Volto a tentar adormecer em vão, os lençóis repelem o meu corpo como se de azeite em água se trata-se. Passo as horas a debater-me com eles aceitando aos poucos a derrota de mais uma batalha.
Adormeci a sonhar contigo e acordei com fotografias tuas espalhadas pela minha mente.

Levanto-me tentando fazer algo de útil, visto o meu manto, para que ninguém saiba, e por cima uma roupa qualquer.
Passo o dia a tentar lembrar-me de outras coisas, que não me parecem fazer sentido algum.
Perguntam-me como vou e se está tudo bem, o manto reflecte um sorriso e digo que sim, estou bem. Mantenho conversas vulgares que não me trazem nada à cabeça, tento parecer bem para que não se preocupem, para que não se afligem.
E assim aos poucos passa o dia, falo, almoço, tomo café, falo de coisas sem importância, jogo à bola fazendo o espalhafato que costumava fazer, mas agora ele não está lá, não há essência no que faço, aquela alegria desapareceu.
Chego ao meu refugio e jogo a roupa para um canto qualquer, penduro o manto que amanha vai ser preciso. Faço as coisas do dia a dia até chegar à noite em que fico comigo próprio falando e relembrando do que à muito já se passou.

E fico aqui assim em mim, a olhar as feridas abertas deixando-as sangrar inundando o meu quarto. Faço pressão nelas para que parem mas são demasiadas e não há mãos suficientes para todas elas. Suponho que aos poucos elas se fechem ou que não haja mais nada para verter.
Sinto-me tão cansado, tão desprotegido, gosto de ser o alguém que protege, mas hoje sou eu que preciso. Preciso daquele abraço que nos deixa encostar a cabeça ao peito de alguém, em que conseguimos sentir o bater ali tão próximo, o quente que nos aquece, o amor que nos ama, um abraço que se torna o nosso escudo.
Largo o que sinto por cima de algumas palavras que só eu sei o que realmente me dizem e assim me remendo a mim próprio, aos poucos o tempo passa, as nuvens afastam-se, o sol nasce, os carros passam, o mundo gira.

Volto-me a deitar à espera que desta vez o lençóis me aceitem pelo que sou, não sou mais, sou só isto, tenho pena.
Espalho mais fotografias tuas, sonhando um pouco mais contigo até ao adormecer.
(By/Por: Niu)