Wednesday, March 26, 2008

Perdido



Acabei agora de te escrever uma carta, a primeira carta que jamais escrevi a alguém. Sei que não é uma bela carta é longa e pesada, pois com ela vai um pouco do meu coração com o leve perfume da saudade.

Estou à espera do autocarro. Sentado em sofás verdes demasiado confortáveis para uma qualquer sala de espera, as paredes são de cores opacas a condizerem com o chão que não tem expressão, se a tivesse não seria alegre pelo seu aspecto degradado. Apesar disso as pessoas continuam a ser as mesmas, os idosos esperam o inevitável, pedintes fazem o que apenas sabem, e eu continuo à espera.
Pessoas atarefadas de um lado para o outro com sacos, sacolas, malas, mochilas, uma panóplia de recipientes de transporte, sempre com a pressa de chegar a algum lado. Eu meramente observo enquanto não chega o veiculo das 16h que teima em não mergulhar no seu leito.
Há jornais pelos bancos que gritam terem sido abandonados pelo tempo.

Observo tudo isto, mas de momento estou distante, todos se movem mais lentamente, como num filme em slow motion, a visão fica desfocada e tudo perde a sua cor. Muito ao longe vejo-te a caminhar entre a multidão, hoje mais do que nunca os teus cabelos estão mais doirados, a tua pele é mais clara e vejo um pedaço do céu azul quando avisto os teus olhos, destacas-te de toda a gente. O meu coração dispara, a respiração aumenta de frequência e apesar de estar frio fico com calor.
Levanto-me para ir ter contigo, atravesso o mar de gente que vem contra mim, o se que torna difícil, os encontrões vêem de todo o lado, lembraram-se todos de passar por aqui agora?
Perco-te de vista ao te tentar alcançar. Chego ao lugar onde te vi, e não existe sinal nenhum da tua presença, olho ao redor na esperança de mais um vislumbre e não é que te vejo lá ao fundo a acenares para mim e caminhas para a porta de saída.
Apresso-me para lá, e mais uma vez não te apanho, dirijo-me para a rua e neste momento já não penso em mais nada senão em te tocar, corro como nunca corri na pressa de chegar junto a ti.
Paro de repente na saída pois não te vejo e para meu espanto também não há mais ninguém, olho para trás de onde vim e toda a gente desapareceu, na rua carros só os que estão silenciosamente estacionados. Ninguém, nenhuma alma penada se vê, tudo está tão silencioso, ao fundo da avenida só os semáforos operam, tudo o resto é apenas o vento a dançar e eu boquiaberto deixo-o entrar para os pulmões.
Caminho para o meio da rua olhando em redor, confirmando não existir ninguém e não, não há, nada, ninguém, nem tu. Fecho os olhos imagino-te com força para que apareças, mas não, não apareces.
Conformo-me de que estou sozinho, penso no que fazer e para onde vou?
Sento-me e penso no que me disseram quando era pequeno: quando te perderes não procures fica apenas no lugar onde estás.
Sigo agora esse conselho, o meu coração não vai para mais nenhum lugar, estaremos aqui os dois, à espera que voltes e nos leves contigo. Por isso volta por mim.
(By/Por: niu)