Thursday, March 6, 2008

Um sonho


 
Acabo de me deitar na minha cama que passou o dia à espera deste momento. Está frio, escondo a cabeça mais um pouco debaixo dos lençóis, deixo apenas os olhos e nariz de fora, respiro o pouco ar fresco que ainda resta.
Passei o dia a pensar em ti como todos os dias que têm passado, estou cansado mas não deixo de pensar em ti. A pouco e pouco a sonolência vem-me encobrindo com o seu manto até fechar os olhos.

Acordo sobressaltado, estava a sonhar que tinhas acabado o curso, que tinhas ido embora para a casa dos teu pais e nunca mais te tinha visto. Mas espera aí, não foi isto que realmente aconteceu?

Abro os olhos, reparo que os estores estão fechados mas dá para perceber que já é de manha. Olho para cima e vejo que não estou no meu quarto, começo a olhar em redor, há um quadro na parede, as fotografias que estão no guarda fatos são tuas, uma estante que se agarra à parede esforça-se para aguentar com os livros que me disses-te ter lido, pelo ar serpenteia um leve cheiro a perfume e se a memoria não me falha é o Flowers by Kenzo.

Um raio atinge-me, estou no teu quarto, por incrível que pareça. Penso para mim: "Estou a sonhar só pode!" Algo quente está sobre no meu peito, olho para o lado e lá estás tu, aqui mesmo ao meu lado, encostada a mim tens a tua mão em cima do meu peito, ainda dormes pela frequência da respiração. Estás tão quietinha pareces um anjo (é verdade que o pareces, mesmo que não estejas quietinha ou a dormir), o que faz com que pelo meu corpo percorra uma onda de calor, olho simplesmente para ti. Nunca me lembro te ter estado assim tão perto do teu rosto, de sentir a tua respiração no meu pescoço. Hesitante passo a mão pelos teus cabelos doirados seguindo pela face de pele clara até junto da tua boca. Tiras-me a respiração de cada vez que te contemplo.
Completamente aturdido digo: "Só posso estar a sonhar, como é possível?", e ao falar tu das um pequeno gemido de satisfação, daqueles que quando se acorda de manha sabe mesmo bem gesticular, e dizes de seguida: "Sim, eu também estou a sonhar". Abres os teu belos olhos, para fecha-los logo de seguida, agarras-te ainda mais a mim e ficamos assim por breves instantes.
Dizes que tens de te levantar para ir a qualquer lado, ainda meio zonzo ouço apenas um eco do que dizes de tão inacreditável da situação. Aproximas a tua face da minha e das-me um longo beijo com os teus lábios quentes e doces. Olha-mos um para o outro com aquele olhar de: "Vá, só mais cinco minutos, ainda é cedo.", e ali ficamos naquele repasto, abraço-te com medo de que nada disto seja real e daqui a pouco tudo se desvaneça, e assim mais uma vez encosto os meus lábios aos teus.

Ouço um barulho, alguém entrou de rompante quarto adentro, é o teu pai pelo aspecto irado que traz. Isto não vai correr bem - penso - ai não vai não. Grita e diz: "Quem és tu, para estares aqui metido com a minha filha?" Ao aproximar-se, fico com mais certeza que isto vai dar molho. Olho para o lado, já mergulhas-te para dentro dos lençóis que nem sinto o calor que emana do teu corpo. E ao debruçar-se sobre mim mete-me a mão ao ombro e diz: "Acorda rapaz, acorda que tens o despertador a tocar".

Desta vez acordo mesmo, o despertador está a tocar, ainda é cedo pela pouca claridade que está no quarto.
Olho para o lado, estou sozinho, continua frio e meto a cabeça debaixo dos lençóis. Penso no quanto os sonhos são cruéis, mas por agora quero apenas voltar a adormecer e sonhar mais um bocadinho contigo, pois é isso que apenas posso ter,  sonhos.
(by niu)