Friday, February 29, 2008

Esta metade da laranja



Tinha tanta coisa para dizer, disse algumas, as que não disse digo agora, possivelmente incompreensíveis de se compreenderem, por isso se houver algo incompreensível, é mesmo para o ser, pois provavelmente nem eu as compreendo.
Apenas o que te posso dar são meras palavras, provavelmente para ti sem significado. E se o que escrevo significa-se alguma coisa, continuava a escrever como te escrevi a primeira vez em Dezembro, e de todas as seguintes vezes. Não o nego, irei continuar a fazê-lo enquanto tiver esta necessidade incompreensível, com a esperança que as palavras te tragam.
E pela primeira vez sinto um formigueiro no nariz, os olhos ficam turvos sempre que me lembro de ti. E não me perguntes porquê, porque tu sabes. Porque o que sinto não desaparece de hoje para amanhã (tomara que isso acontecesse), mas não acontece.
Murmurei que não sabia de onde isto tinha vindo e que não sabia para onde ia, mas sei, e não há volta a dar, esta estrada é de sentido único, e por ela sigo a ver se me leva a algum destino.

Relembrei-me hoje de quando era miúdo que andava sempre atrás da minha madrinha quando lhe queria pedir algo. Hoje foi diferente, hoje só te queria oferecer sem pedir algo em troca e por te ter chateado como quando era miúdo peço-te desculpa.
Tu pensas com a cabeça e eu com o coração e é por isso que não acreditei no que disses-te, recuso a que se resuma a apenas isto, será? Estarei mesmo a fantasiar, no fundo no fundo senti a negares-te a ti, a cortar pela raiz, não fui só eu que pensei nisto, fui? No fundo no fundo não há mesmo nada?

E não é tarde nem é cedo, viro as costas e vejo a cama ali à espera, naquele canto a dizer que estará sempre ali para mim, fiel, que me aconchega quando preciso, mas surda e muda com o meu próprio aroma, nada que me faça lembrar aquele teu suave e doce perfume, assim como tu.
Não vou fechar a porta, ela vai continuar por aqui aberta à tua espera enquanto isto durar. Talvez amanhã tudo vá parecer diferente, apenas sei que amanhã se vai manter este fulgor, e apesar do frio de inverno que se faz sentir la fora, tenho o calor de verão vestido em mim. O meu coração lateja e move-se freneticamente em todas as direcções tentando fugir de mim.

Fazes-me lembrar um comboio que chega à hora anunciada e parte à hora marcada, não espera por ninguém, apenas segue para o próximo destino. Cheguei quando já estava a partir, corri mas apenas o vislumbrei um pouco. E prometo que todos os dias esperarei à hora marcada que este bilhete não tem devolução. Que volte de portas abertas e juntos viajaremos no caminho da vida.
A metade de laranja que possuo tem defeitos, eu sei, só basta dizeres que arranco a casca tiro todas as sementes e apenas te deixo o que é doce, suave e refrescante. Não é isso que queres?

Nos últimos instantes disse: "Se mudares de ideias, eu não irei a lado nenhum." E verdade seja dita, aqui vou continuar a estar.
(by niu)